Trabalhadores acima dos 30 anos de idade são maioria no Ensino Superior a distância

Em: 24 Maio 2018 | Fonte: O Pioneiro (RS)

Aos 39 anos e prestes a realizar um sonho de infância, a técnica em enfermagem Rosane Beatriz Welzbacher contraria quem imagina que plataformas virtuais de Ensino Superior são terreno para gurizada recém saída do Ensino Médio que não desgruda do celular e do computador. Pelo contrário, a Educação a Distância (EAD) parece, por enquanto, combinar mais com homens e mulheres maduros, acima dos 30 anos, que buscam ascensão salarial por meio da primeira ou segunda graduação, mas não têm tempo ou paciência para sair de casa ou do trabalho para enfrentar o trânsito de ônibus ou de carro e estar diariamente numa sala de aula.

Essa percepção, já apontada por professores e funcionários das faculdades de Caxias do Sul, ficou evidente num estudo abrangendo cinco regiões do país, divulgado na última terça-feira pela Associação Brasileira de Mantenedoras de Ensino Superior (ABMES) em parceria com a empresa de pesquisas Educa Insights (veja mais detalhes no gráfico abaixo).

A pesquisa da ABMES, que representa mais de mil instituições de Ensino Superior, ouviu 1.012 estudantes e apontou que 67% deles têm 31 anos em diante e a maioria são mulheres, caso de Rosane. De longe, a faixa etária é uma das pistas para esclarecer quem é a pessoa que consome EAD e a qual perspectiva dela numa modalidade que promete ampliar o acesso ao Ensino Superior desde que o Ministério da Educação (MEC) flexibilizou as regras para o segmento há um ano.

Assim como boa parte dos relatos de alunos a professores e funcionários de EAD na cidade (censo do Inep identificou 3,2 mil matrículas em 2016), Rosane usa a alternativa para ter um diploma universitário. Ela trabalha à noite num hospital e aproveita o dia para estudar Pedagogia no ambiente virtual da Universidade de Caxias do Sul (UCS). A técnica em enfermagem, que almeja erguer o canudo de Pedagogia desde entrou pela primeira vez numa sala de aula, teria de largar o emprego se quisesse cursar a faculdade no formato tradicional.

— Foi isso mesmo: falta de tempo para frequentar as aulas que só ocorrem no vespertino e de noite. Fiz um semestre presencial, saía uma hora mais cedo. O professor da época era tolerante, mas sei que não seria sempre assim — lembra Rosane.

Ela garante que consegue captar melhor o conteúdo em casa, onde pode rever as aulas e tirar dúvidas com os docentes nos fóruns de conversa virtual.

— Quase sempre respondem na hora. Acho que não precisa estar em sala de aula para aprender a dar aula — diz uma convicta Rosane, que se prepara para iniciar o primeiro estágio na área de educação infantil.

É uma situação parecida com a do agrimensor Alisson Berti, 40, hoje imerso nos estudos de Engenharia Civil a distância pela Unicesumar. Separado e pai de um guri de sete anos, Berti diz que busca mais tempo para a convivência com o filho, pois passa a maior parte da semana a trabalho em outras cidades. Antes de mergulhar na Engenharia, o agrimensor tentou cursar Administração de forma presencial há alguns anos e desistiu. Retomou os estudos neste ano a partir do conforto do sofá de casa ou comodidade do escritório.

— Basta um celular para mim ter acesso ao conteúdo. Achava que estudo a distância era fraco. Quebrou meus conceitos. É só a forma de passar matéria que muda. É sem dúvida uma aula bem diferente e tu tem que se puxar. Mas não preciso ir de carro, enfrentar o trânsito, sair de casa no frio. Fico mais tempo com meu filho — conta Berti.

O tempo precioso de Berti e Rosane aparece como um dos fatores decisivos para quem opta pela EAD em Caxias, segundo a professora Cristiane Backer Welter, coordenadora do curso de pedagogia da UCS e integrante do Observatório da Educação da mesma instituição.

— Eu, por exemplo, moro em Picada Café, levo uma hora para vir a UCS. Tem aluno que leva uma hora para vir de casa, em Caxias, até a UCS. O trânsito portanto impacta. No caso da UCS, notamos que houve mais interesse pela aula virtual com a mudança no sistema de transporte, muitas pessoas nos procuraram alegando que pegar dois ônibus ficaria mais difícil e optaram por fazer a distância — lembra a docente.

Para o diretor executivo da ABMES, Sólon Caldas, hoje o público é mais maduro, como apontou o estudo, mas a médio prazo terá a adesão forte do estudante de 18 e 19 anos que conclui o Ensino Médio.

— O modelo de 20% de disciplinas a distância nas universidades permite que o jovem tenha esse contato com a EAD, ele vai se adaptando. O mundo está caminhando para isso e não será diferente no Brasil.

COMO SER UM ALUNO DE EAD

:: Ter organização para melhor estabelecer um plano de estudo.
:: Saber gerenciar o tempo disponível para estruturar o trabalho acadêmico.
:: Manter acessos regulares ao ambiente virtual.
:: Aprimorar a capacidade de interação e socialização.
:: Definir bem os objetivos, metas e motivar-se permanentemente para alcançá-los.
:: Desenvolver a autonomia para resolver situações problemas, tais como pesquisa, leituras complementares, associar teoria e prática dentre outras.
:: Intimidade com as tecnologias da informação.

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