Sólon Caldas: “O Brasil precisa de uma política pública de financiamento sustentável”

Em: 30 Janeiro 2017 | Fonte: O Popular

Diretor-executivo da associação que congrega mantenedoras de instituições de ensino superior fala sobre as dificuldades enfrentada pelos alunos

Diretor-executivo da associação que congrega mantenedoras de instituições de ensino superior fala sobre as dificuldades enfrentada pelos alunos

A pesquisa Os Egressos do Ensino Superior no Brasil mostra que, em média, 42% dos ingressantes terminam seus cursos no período estimado para a conclusão. Esse dado preocupa?

Há muitas variáveis nesse contexto que faz com que a pessoa atrase a conclusão ou até abandone o curso. Não quer dizer que os 58% restantes não concluíram, apesar da evasão também ser alta, em torno de 30%, mas muitos trancam a matrícula por um tempo, mudam de curso e não conseguem aproveitar todas as matérias. Isso é importante porque a formação superior está totalmente relacionada ao desenvolvimento de qualquer País. O Brasil precisa de profissionais capacitados para inovar e precisamos de políticas públicas no sentido de fomentar essa capacitação.

Quais são os principais obstáculos enfrentados pelos alunos para concluir o curso?

Os dados mostram que, entre 2010 a 2015, cerca de 80% dos egressos saíram de instituições de educação superior particulares, contra 20% das instituições públicas. Também mostram que 66% dos concluintes das particulares pagam a própria mensalidade. Temos aí duas variáveis. Uma é a questão financeira. Muitos que podem pagar seus estudos vão para a universidade pública enquanto os menos favorecidos vão para as instituições privadas e, às vezes, não conseguem arcar com os custos. Ou o indivíduo tem que trabalhar para pagar os estudos. Trabalha de dia e estuda à noite, e esse acúmulo de cansaço por conta de maratona diária pode interferir no rendimento. Outra variável importante é a formação básica em si. Muitos desses estudantes chegam com uma deficiência maior e não conseguem acompanhar a turma, o que contribui
para a evasão.

As mudanças no Fies devem afetar a porcentagem de concluintes nos anos seguintes?

Ela vai afetar porque, se diminui o número de ingressantes, automaticamente vai diminuir o concluintes. Houve uma mudança muito drástica. Até 2014, o acesso ao Fies era livre. Não tinha limite de vagas e qualquer aluno dentro do perfil podia acessar o benefício a
qualquer momento da graduação. Mas recentemente houve uma série de restrições e a partir do próximo senso da educação superior poderemos começar a perceber o reflexo desses números.

Milhares de estudantes estão prestes a ingressar nas universidades e faculdades neste início de ano. O que pode ser feito para garantir que uma parcela significativa se forme no tempo médio de conclusão?

As instituições têm atuado em duas frentes, oferecendo formas alternativas de financiamento estudantil. O ensino superior incrementa mais de 180% do salário em comparação ao ensino médio.

Acreditando nesse dado, instituições privadas oferecem ao aluno a opção de se formar primeiro e pagar pelo menos uma parte depois. Por conta da defasagem de conhecimento, na maioria das vezes dos estudantes provenientes de escolas públicas, fazem o nivelamento dos
conhecimentos em português e matemática, principalmente na parte de cálculo nas engenharias.

O Plano Nacional de Educação (PNE) tem como meta atingir, até 2024, um índice de 33% dos jovens entre 18 e 24 anos matriculados no ensino superior. Atualmente só temos 17%. Atingir a meta é possível?

Nós estamos muito aquém na taxa líquida de matrículas, que mede a quantidade de jovens que saíram do ensino médio e logo em seguida
ingressaram na faculdade. Estamos abaixo dos países vizinhos. Argentina, México, Chile e Colômbia têm taxa líquida de mais de 35%.
Não ter o jovem estudando compromete o futuro e isso é complicado de consertar. Quando o Fies era porta aberta, tínhamos um crescimento próximo de 3% ao ano nessa taxa. Para batermos a meta, teríamos que dobrar a quantidade de estudantes no ensino superior em sete anos. Para isso, a taxa líquida deveria crescer pelo menos 10% ao ano. Essa meta está muito comprometida. O Brasil precisa de uma política pública de financiamento sustentável que dê conta de atender a realidade dos milhões de jovens.

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