O Globo: Com vacinação lenta, interessados no ensino superior só devem se matricular em 2022, diz pesquisa
Em: 29 Junho 2021 | Fonte: O Globo
Entre os que já tomaram pelo menos uma dose de vacina, 39% pensam em se matricular logo no meio de 2021. Esse valor é mais do que o dobro do grupo que ainda aguarda o imunizante
Pesquisa da Educa Insights em parceria com a Associação Brasileira de Mantenedoras de Ensino Superior (Abmes) mostra que pessoas com interesse em cursar o ensino superior vão esperar o primeiro semestre de 2022 para realizar suas matrículas. O levantamento mostra que o ritmo de vacinação influencia na decisão.
Entre os que já tomaram pelo menos uma dose de vacina, 39% pensam em se matricular logo no meio de 2021. Esse valor é mais do que o dobro do grupo que ainda aguarda o imunizante: apenas 16% têm a intenção de começar um curso superior EAD ou presencial no próximo semestre.
Enquanto isso, 41% dos entrevistados que já tomaram uma dose e 43% dos que não receberam nenhuma só pretendem se matricular em janeiro de 2022.
O levantamento “Observatório da Educação Superior: análise dos desafios para 2021 – 3ª edição” foi realizado entre 19 e 22 de junho, via internet. Foram consultados 1.212 homens e mulheres, de 17 a 50 anos, que desejam ingressar em cursos de graduação presenciais e EAD ao longo dos próximos 18 meses, em todas as regiões brasileiras.
Segundo Celso Niskier, diretor-presidente da Abmes, isso aumenta o risco de falta de mão de obra qualificada para a retomada econômica, “como vem sendo sentido em vários setores, entre eles, o de Tecnologia da Informação”, afirmou.
A pesquisa mostra que já há um pequeno aumento na procura pela graduação presencial, mas que muitos jovens ainda estão aguardando a vacinação completa para a retomada do sonho da educação superior, o que deverá acontecer somente a partir de 2022, dada a lentidão do processo de imunização — afirma o Niskier.
Ainda de acordo com a pesquisa, entre as razões para a baixa procura por matrículas imediatas estão o contexto econômico desfavorável, o aumento no número de casos de contaminação do coronavírus com o início da 3ª onda e o anúncio do calendário de vacinação para a faixa etária mais jovem concentrado no segundo semestre na maior parte do país.
Apagão na educação superior vai durar mais de duas décadas
A pandemia prejudicou também o Plano Nacional de Educação (PNE), estabelecido pelo Congresso Nacional e sancionado pela então presidente Dilma Rousseff, em 2014, que previa que até 2024 o Brasil atingisse a marca de 33% da taxa líquida de matrículas realizadas na graduação, ou seja 33% da população entre 18 e 24 anos, apta a se matricular no ensino superior.
No entanto, ainda em 2019, foi previsto que, mesmo em condições normais, ou seja, sem uma calamidade pública como tem sido a pandemia, o percentual só seria alcançado em 2041.
Atualmente, com apenas 19% da taxa proposta, já é certeza que o apagão na educação superior perdurará por mais de duas décadas, dizem especialista so setor.
— O horizonte ainda é de dificuldades porque não será contado apenas o índice menor de ingresso nas faculdades, mas também todos os estudantes que pararam de estudar por conta de dificuldades financeiras e tecnológicas. Se não tivesse sido adotado o EAD, esse número teria caído ainda mais — analisa Sólon Caldas, diretor-executivo da Abmes.
Caldas afirma ainda que o setor do ensino particular, apesar de composto por pequenos, médios e grandes centros de ensino, terá dificuldades de oferecer financiamento e descontos aos alunos, visto a indisponibilidade de verba para tal.
Ele defende a implementação de medidas mais fáceis de acesso a crédito estudantil, como o Fies. Atualmente, segundo o diretor-executivo, as dificuldades para adesão do benefício fornecido pelo Governo Federal faz com que apenas 46 mil das 100 mil bolsas ofertadas sejam ocupadas.
— Temos defendido o Fies emergencial, para viabilização do sonho estudantil, e temos defendido também linhas de crédito para preservar os caixas das faculdades privadas. Hoje, cerca de 88% das faculdades estão no setor privado, mas só quem pode pagar está estudando. Então, precisamos de políticas que vão de encontro com os interesses dos alunos — explica.
Entre as regiões do Brasil que se planejam para iniciar o curso de graduação, o Norte e o Nordeste são os que menos têm perspectivas para o segundo semestre de 2021, com 14% e 15%, respectivamente.
Contudo, o sócio-fundador da Educa Insights, Daniel Infante, afirma que, mesmo sem a pandemia, ambas as regiões apresentariam menos ingressos em faculdades.
— O Norte e Nordeste do país têm mais impacto por causa das diferenças socioeconômicas. Mas, em momentos fora da pandemia, a taxa de ingresso seria relativamente parecida, quando comparada com a região Sudeste, ou estados do Sul, e o Distrito Federal, por exemplo. Não é algo específico da pandemia — aponta.