Metade dos universitários desiste antes de se formar; custo é bilionário

Em: 07 Junho 2017 | Fonte: Gazeta do Povo

Falta de vocação, formação ruim no ensino básico e crise financeira são citadas como motivo para os índices elevados de desistência

Depois de 15 anos cursando História sem se formar, uma aluna da Universidade Federal do Amapá perdeu na Justiça e teve de aceitar deu desligamento do curso. O caso noticiado na semana passada é extremo, mas não tão descolado da realidade brasileira: um número elevado de aprovados no vestibular acaba deixando a faculdade sem se formar.

Segundo os dados mais recentes do Ministério da Educação, 49% dos alunos que entraram na universidade em 2010 haviam deixado seus cursos quatro anos depois. O índice de abandono foi de 52,7% nas universidades particulares e de 42,6% nas públicas.

O problema tem dois aspectos graves: o primeiro é o custo financeiro. Cada aluno que abandona a universidade pública (ou particular com financiamento público) gera desperdício de recursos para o Tesouro.

O outro aspecto é social: o abandono do ensino superior tem como consequência a falta de profissionais qualificados em muitas áreas, e pode atrasar a entrada de jovens no mercado de trabalho.

O ministro da Educação, Mendonça Filho, defende que a reforma do Ensino Médio tende a amenizar o problema, já que prevê a orientação profissional para alunos nos anos finais da escola. Mas, se a medida pode ajudar a resolver parte do problema – o desencanto de estudantes com o curso escolhido – nada faria para resolver outros dois: o despreparo educacional e a falta de recursos financeiros.

“Não adianta nada eu incluir uma orientação de carreira e o aluno decidir que de fato quer fazer engenharia, por exemplo. Se ele não tiver a base de matemática ou física, ele não vai continuar”, diz o professor Oscar Hipólito, diretor acadêmico da rede de universidades Laureate no Brasil.

Hipólito sabe o que diz. Como professor de Física, um dos cursos com maior evasão, ele sempre notou a dificuldade dos alunos em compreender as matérias. Decidiu, então, medir por conta própria os custos da evasão no país: somente os recursos públicos desperdiçados pelas universidades federais e as mensalidades que deixam de ser pagas nas particulares chegam a R$1,5 bilhão por ano.

A conta não inclui outras consequências negativas do abandono, como a falta de profissionais em determinadas áreas (especialmente nas ciências exatas).

Para o professor, o despreparo do aluno – em grande medida consequência da má qualidade do ensino básico – é a principal explicação para a alta evasão no ensino superior.

Crise econômica

Mas o terceiro motivo da evasão, o financeiro, parece estar em alta.

O coordenador de Educação do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA), Paulo Corbucci, acredita que esta hipótese é a que tem mais levado alunos a deixar seus cursos.

Com a crise orçamentária, o Fies (programa federal de financiamento para alunos de universidades particulares) perdeu 50% dos novos alunos entre 2014 e 2015, ainda durante a gestão Dilma, e teve um anúncio de corte de 29% nos recursos neste ano, já durante a gestão Temer.

O número de pessoas que ingressaram no ensino superior também caiu 2.6% nas universidades públicas e 6,9% nas particulares entre 2014 e 2015, mesmo com o crescimento vegetativo da população.

O diretor-executivo da Associação Brasileira de Mantenedoras do Ensino Superior (ABMES), Solon Caldas, diz que a redução no financiamento estudantil teve impacto direto nos índices de evasão, o que levou algumas instituições a flexibilizar os métodos de pagamento. “Muitas delas estão aceitando uma parte de pagamento durante o curso e outra parte depois da formatura, sem juros”, diz.

Outro fator ajuda a explicar o cenário atual, complementa Solon. “Os jovens das classes A e B normalmente vão estudar na universidade pública e o estudante que precisa trabalhar durante o dia é que vai para a instituição privada. O cenário de crise, com o desemprego, dificulta a possibildade de acesso”, afirma.

A meta do Brasil é atingir 34% da população entre 18 e 24 anos na universidade até 2020. Atualmente, este número está abaixo dos 20%. O governo costuma centrar esforços no aumento do número de ingressantes. Reduzir a evasão, entretanto, pode ser a forma mais eficiente de chegar mais perto da meta.

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