Levy sinaliza corte significativo no Fies
Em: 15 Abril 2015 | Fonte: Valor Econômico
"O Fies (Fundo de Financiamento Estudantil) transformou pequenos em gigantes." A frase foi atribuída ao ministro da Fazenda, Joaquim Levy, por secretários estaduais que participaram da reunião do Conselho Nacional de Política Fazendária (Confaz), realizada na última sextafeira, em Goiânia. Segundo as fontes, Levy deu sinalizações de que o corte no orçamento do programa "será grande".
O tema não foi provocado por nenhum dos secretários presentes ao encontro. Surgiu, de acordo com os relatos, de "forma espontânea", enquanto Levy falava sobre o ajuste fiscal em curso e criticava a política econômica de seus antecessores. "Ele falou mal do passado", complementou um dos secretários de Fazenda ouvidos pelo Valor.
Nos últimos anos, o governo perdeu o controle sobre o volume de contratos do Fies e algumas instituições de ensino aproveitaram o crédito farto para expandir exponencialmente o número de alunos, transformandose nas "gigantes" a que Levy teria se referido. Com as mudanças nas regras do programa, anunciadas a contagotas desde o fim do ano passado, as ações das principais empresas vêm caindo substancialmente.
Do início do ano até ontem, o maior tombo (51,5%) foi verificado nos papéis do grupo Ser Educacional, principal instituição privada de ensino superior das regiões Norte e Nordeste. Também houve desvalorizações importantes nas ações da Anima Educação (47,9%), da Kroton (26%) e do grupo Estácio (17,9%).
As quedas refletem a expectativa de que o corte do Fies será mesmo profundo, apesar de o Ministério da Educação (MEC) se recusar a informar o número exato de contratos novos que serão disponibilizados para o ano letivo de 2015. Os dados mais atualizados, de acordo com o novo ministro, Renato Janine Ribeiro, apontam que, até agora, foram criadas 230 mil novas bolsas, o que representa uma queda de quase 70% em relação a 2014, faltando apenas 15 dias para o fim das inscrições.
O MEC ainda não confirmou se haverá uma nova rodada do Fies no segundo semestre deste ano, mas a tendência é de que o programa fique mesmo no patamar atual, que é bastante próximo do número de vagas que serão oferecidas nas universidades federais por meio do Sistema de Seleção Unificado (Sisu) e nas particulares via Programa Universidade para Todos (Prouni).
Apesar da evidente necessidade de corte de gastos, o governo insiste que a mudança de regras não tem motivação financeira, mas operacional. A justificativa é de que o Fies passará a privilegiar cursos de maior qualidade e estudantes mais bem avaliados.
Até agora, foi anunciado que todos os cursos com nota 5 no Enade (Exame Nacional de Desempenho de Estudantes) serão atendidos. Já aqueles com notas 3 e 4 serão selecionados por critérios geográficos, com prioridade para as regiões com menor participação do ensino superior.
Para os estudantes, o filtro será o Exame Nacional de Ensino Médio (Enem). Somente quem obtiver ao menos 450 pontos e nota maior do que zero na redação estará apto a pleitear o financiamento do governo. Os novos critérios desagradam as instituições privadas, que veem no endurecimento da exigibilidade um incentivo à exclusão dos
alunos mais pobres.
Procurado para comentar as declarações de Levy, o Ministério da Fazenda alegou, por meio de sua assessoria, não ter conhecimento das falas atribuídas ao ministro pelos secretários.