Kroton é a 'empresa de Valor' do ano
Em: 26 Agosto 2014 | Fonte: Valor Econômico
Com mais de 1 milhão de alunos e valor de mercado superior a R$ 26 bilhões, a Kroton é uma companhia de superlativos. Em junho, o Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) e os acionistas aprovaram a fusão com a Anhanguera, criando o maior grupo de ensino superior do mundo, considerando o volume de matrículas e o valor de mercado. A receita líquida estimada da nova companhia para este ano é de R$ 4,7 bilhões.
Antes da fusão, a Kroton já apresentava números avantajados. Entre 2011 e 2013, o lucro líquido da empresa saltou de R$ 37 milhões para R$ 516 milhões. Neste ano, o lucro da nova companhia deve ultrapassar a casa de R$ 1 bilhão. A boa performance também é percebida pelos investidores. Entre janeiro e agosto, o papel da Kroton acumula uma valorização de 70,7% - percentual bem acima dos 14,3% de alta do Ibovespa.
Diante de tais números, a Kroton estreia no "Valor 1000" com o pé direito. Em 14 edições do anuário, essa é a primeira vez que o setor de educação passa a integrar uma das 26 categorias premiadas. Além de ser contemplada como a maior e melhor no setor de educação, a Kroton foi eleita a melhor entre mil companhias e, portanto, leva o título de "Empresa de Valor."
O desempenho da Kroton é explicado por uma combinação de boa gestão - comprovada pela sua margem operacional, que chega a ser 20 pontos percentuais acima de seus concorrentes - com fatores externos. O governo criou uma série de incentivos para o ensino superior privado como o ProUni (programa de bolsa para alunos carentes em troca de isenção tributária), Fies (financiamento estudantil com juros subsidiados) e o Pronatec (bolsa para cursos técnicos). Nos últimos quatro anos, foram assinados mais de 1,6 milhão de contratos de Fies.
Na Kroton, cerca de 60% dos alunos de graduação presencial estudam com o financiamento. Porém, a performance da empresa não é explicada só pelos programas do governo, uma vez que metade do negócio da companhia vem de ensino a distância, segmento que não é beneficiado pelos programas.
Originária do cursinho mineiro de pré-vestibular Pitágoras - criado na década de 1960 pelo o ex-ministro Walfrido dos Mares Guia e outros sócios - a Kroton é uma companhia resultante de várias aquisições e fusões. A primeira compra relevante foi o Iuni, grupo de ensino fundado pela família Galindo, em 2010. Nos dois anos seguintes, a Kroton fez uma importante aposta ao adquirir duas instituições de ensino a distância por R$ 1,8 bilhão. Essas transações, com valores recordes para a época, foram recebidas com desconfiança. Porém, a eficiência operacional e a capacidade de integrar rapidamente os negócios nortearam a companhia. Não à toa, o sentimento predominante na atual fusão é muito mais de otimismo do que desconfiança.
"Acredito que a integração será totalmente concluída em dezembro de 2015. Estou confortável com esse prazo porque as negociações com o Cade levaram um ano e neste período pudemos conhecer a fundo a operação", disse Rodrigo Galindo, presidente da Kroton. Apesar da magnitude da Anhanguera, a estimava é que as sinergias, de cerca de R$ 300 milhões por ano, comecem a ser capturadas daqui 12 a 18 meses. Trata-se do mesmo prazo da integração da Unopar, universidade de ensino a distância comprada em 2011.
"Hoje, o grande desafio é cultural. Em uma operação dessa magnitude é necessário construir uma nova cultura. Mas estou feliz porque não há arrogância ou resistência entre os executivos", destacou.
Galindo foi na contramão de muitos grupos que buscavam o maior número de alunos possível em detrimento da qualidade do ensino. O executivo lembra que há cerca de cinco anos os investidores o questionavam sobre a viabilidade ter ao mesmo tempo escala e um ensino de qualidade. Na última classificação do MEC, 80% dos cursos da Kroton receberam notas entre 3 e 5 (de um ranking que vai de 1 a 5). Mesmo percentual alcançado pelas universidades federais. Para atingir esse patamar, todos os alunos da Kroton fazem cursos de nivelamento de matemática, biológica e linguagem nos dois primeiros anos. As aulas são ministradas a distância de acordo com o nível de conhecimento do aluno.
O crescimento baseado em volume era o caminho mais fácil, tendo em vista a grande demanda reprimida de brasileiros sem diploma de ensino superior. Até hoje estima-se que haja um contingente de 12 milhões a 15 milhões de pessoas, com idade entre 24 a 35 anos, que pararam de estudar no ensino médio. Porém, com o aumento da concorrência e mensalidades a patamares muito semelhantes nos últimos anos, a qualidade do ensino virou um diferencial. Além disso, o Fies só é válido para cursos com nota mínima 3. Trocando em miúdos: hoje, os interesses econômicos e acadêmicos precisam caminhar juntos.