Folha de S.Paulo: A desigualdade nas redações do Enem

Em: 15 Janeiro 2025 | Fonte: Folha de São Paulo

Dos mais de 4,32 milhões de inscritos no Enem de 2024, só 12 obtiveram a pontuação máxima (nota 1.000) em suas redações. Desse seleto grupo, apenas uma estudante concluiu o ensino médio numa escola pública. Todos os demais vêm de colégios particulares.

A escola pública exitosa é um colégio de aplicação ligado à Universidade Federal de Viçosa (MG) que seleciona alunos por meio de exame. Assim, é um corpo discente mais elitizado e pouco representativo das instituições de ensino públicas regulares.

A queda ante 2023 é significativa. Naquele Enem, 60 estudantes obtiveram a nota 1.000, dos quais 4 eram de escolas públicas.

Esses dados somam-se a outros indicadores que evidenciam a grande distância que separa o desempenho de estudantes das redes pública e privada.

Relatório de 2023 da ONG Todos pela Educação, com base em números do Sistema de Avaliação da Educação Básica do estado de São Paulo, mostrou que 75,8% dos alunos do ensino médio do sistema particular tinham desempenho adequado em língua portuguesa; no público, a taxa era de 37%. Em matemática os resultados são mais chocantes: 42% e 5,8%, respectivamente.

 

É falha grave, especialmente quando se considera que a educação é, ou deveria ser, o que americanos chamam de "level playing field" —ambiente que prepara indivíduos para competir em igualdade de condições, ou, ao menos, que permite o desenvolvimento máximo de aptidões.

Se o país não consegue manter um nivelamento mínimo, compromete-se a mobilidade social. É necessário que cada geração tenha perspectivas realistas de conquistar um futuro mais próspero. O poder público brasileiro, entretanto, não tem conseguido cumprir essa tarefa essencial para reduzir desigualdades.

Houve avanços, por óbvio, como a universalização do acesso à educação. Hoje, a maior dificuldade é a evasão, que ocorre principalmente no ensino médio.

Em relação à aprendizagem, observou-se algum progresso ainda concentrado nos anos iniciais do ensino fundamental. Nessa etapa, quase 70% dos alunos da rede pública têm domínio adequado da língua portuguesa (nas particulares, 90%).

A melhoria qualitativa precisa ser a obsessão de todos os gestores em todos os níveis de ensino. Existem experiências de sucesso em várias partes do país que podem e devem ser reproduzidas.

Fazê-lo não é só o caminho para tornar o Brasil mais rico, mas um imperativo moral. É algo que devemos às próximas gerações.

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