Falta de proteção anticalote ameaça Fies

Em: 29 Maio 2015 | Fonte: O Estado de São Paulo

Especialistas criticam falta de modelo para tratar alunos devedores e nível de inadimplência suportado pelo Fundo Garantidor

Além de haver indefinição sobre qual será o nível de inadimplência dos empréstimos do Financiamento Estudantil (Fies), há dúvidas no setor sobre como será a cobrança dos milhares de devedores.

Quem faz esse questionamento é o pesquisador Vinicius Botelho, do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (Ibre-FGV), que realiza estudos sobre o Fies e, ao lado do pesquisador Samuel Pêssoa, projeta um novo modelo de financiamento público para ser apresentado ao governo.

Segundo Botelho, há controvérsia jurídica sobre como executar a dívida do Fies no caso de inadimplência. “Essa cobrança é complicada do ponto de vista jurídico”, diz o pesquisador. Há indefinição sobre se o banco pode negativar, e teria melhores condições técnicas de cobrança, ou se o débito entraria na dívida ativa. “Essa última possibilidade seria a pior, porque a Procuradoria da Fazenda não teria condições de cobrar.”

O Ministério da Educação (MEC) fez uma série de alterações no Fies para frear os gastosO Ministério da Educação (MEC) fez uma série de alterações no Fies para frear os gastos

Hoje, os atrasos acima de um ano estão em 10%, mas eles não refletem a realidade do Fies a partir de 2010 - quando os juros caíram para 3,4% ao ano e as condições de pagamento foram facilitadas. A partir de então, o número de contratos saltou de 76 mil para 1,9 milhão no ano passado, o que consumiu R$ 13,7 bilhões. Relatório do banco Morgan Stanley de setembro de 2014 projetou uma taxa de inadimplência de 27% em 2017.

Nas mudanças para popularizar o financiamento, o governo facilitou as regras com fiador e criou um Fundo Garantidor. A partir de 2012, as empresas educacionais passaram a ter de aderir ao modelo e cerca de 5% dos valores financiados passaram a ser depositados no fundo, que é gerido pelo Banco do Brasil. O valor é repassado pelo Tesouro, mas descontado do que seria pago às empresas educacionais.

O problema é que o Fundo foi desenhado para cobrir 10% de inadimplência do total financiado. Em outros países, esse índice é maior que 20% - no Canadá é de 26%, na Austrália, de 20%, e no Reino Unido, de 45%. “A gente parte de um modelo de financiamento estudantil deficiente. O governo subsidia 40% do financiado, se a inadimplência come outros 20%, você acaba perdendo o dinheiro.”

O retorno depende apenas da produtividade que o aluno formado poderá colaborar com o País. “Por isso, a questão de qualidade dos cursos é a mais central no Fies”, diz o pesquisador Samuel Pêssoa. O saldo atual do Fundo é de R$ 2,8 bilhões, segundo informações disponíveis na Comissão de Valores Mobiliários. Tanto o FNDE quanto o Banco do Brasil se negaram a informar o saldo. /COLABOROU RODRIGO BURGARELLI

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