Especial Valor Econômico: Soma de fatores

Em: 27 Janeiro 2015 | Fonte: Valor Econômico

Impulsionado pelo déficit educacional brasileiro, pela ascensão das classes C e D e pela política federal de estímulo, especialmente com o Programa de Financiamento Estudantil (Fies), destinado ao ensino superior, o mercado educacional privado evoluiu expressivamente nos últimos anos, levando à formação de fortes grupos nacionais e à atração de empresas internacionais, em um movimento intenso de fusões e aquisições.

Segundo dados de 2013 da Hoper Educação, que nomeia as instituições privadas como Sistemas de Soluções Educacionais (SSE), dos 30 players do mercado brasileiro, cinco concentram 60% do total de matrículas - Positivo, Pearson, Abril Educação, Kroton Educacional e Objetivo. Em 2012, de acordo com estudo da Federação Nacional das Escolas Particulares (Fenep), realizado pela Fundação Getulio Vargas (FGV), o setor movimentou R$ 64,7 bilhões no país, com 40.172 escolas e 16,63 milhões de alunos.

Nos últimos dois anos, as perspectivas de crescimento também têm refletido no desempenho das instituições com capital aberto. Em 2013, conforme ranking setorial de empresas com ações em bolsa do Instituto Assaf, a margem líquida média das instituições de serviços educacionais na BM&FBovespa alcançou 17,7%, abaixo apenas de concessionárias de transporte (17,8%), e quase o triplo da média nacional, de 5,9%. O retorno sobre o patrimônio líquido atingiu 15,1%, ante 7% da média nacional. "O processo de fusões e aquisições propiciou ganhos de sinergia às empresas de educação, como maior escala para comprar materiais e para gastos com marketing e propaganda", diz o professor Fabiano Guasti Lima, pesquisador do instituto.

As empresas atuam em todos os níveis educacionais, com escolas próprias ou conveniadas, por meio de um sistema complexo, que envolve o fornecimento de material didático padronizado produzido com metodologia própria, qualificação de professores, instrumentos de apoio à gestão da escola e recursos tecnológicos para alunos e professores.

Os sistemas englobam 40 marcas ou selos, 80% dos quais pertencentes a 19 empresas, e são relativamente flexíveis devido à concorrência. "Eles acabam se adequando à demanda dos clientes. Uma das mais recentes foi o bilinguismo", diz Paulo Presse, coordenador da área de estudos de mercado da Hoper Educação.

Para Amábile Pacios, presidente da Fenep, o processo de consolidação é bem-vindo por fortalecer o mercado e a própria educação no país. "É uma necessidade urgente e cada vez mais temos brasileiros buscando essa qualificação no ensino privado", afirma. Segundo ela, dos 5.570 municípios brasileiros, só 22 têm estrutura de educação superior federal. Os demais são atendidos pela iniciativa privada.

Os segmentos com melhores perspectivas de expansão, segundo Amábile, são a creche, a educação básica em período integral e o ensino médio. No ensino superior, as escolas privadas já predominam, com 5,42 milhões de alunos, 74% do total de matrículas em 2013. Já no ensino básico, a participação privada é de 22%, com 9 milhões de alunos. Segundo Amábile, o maior crescimento do ensino básico está concentrado nos filhos das famílias das classes C e D. Mas há também potencial para crescimento na educação superior, dada a baixa penetração desse nível educacional na população brasileira, de apenas 17,8% dos jovens entre 18 e 24 anos, segundo o Censo da Educação Superior 2013.

Para o professor Ricardo Leal, do Instituto Coppead de Administração, da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), os métodos padronizados dos sistemas privados muitas vezes facilitam a vida das escolas conveniadas. "Há um grande número de escolas particulares desgarradas pelo país, sem participar de um grupo e sem recursos, que podem trazer sua qualidade para um nível razoável ao subscrever um desses sistemas", diz. Isso não vale, ressalva, para escolas públicas e particulares de ponta.

O grande desafio para o sistema privado é impedir que a expansão quantitativa prejudique a qualidade, como observa o professor José Pio Martins, reitor da Universidade Positivo. "Isso passa por políticas governamentais e pela melhora na gestão das escolas." O Positivo fornece seus sistemas a 4 mil escolas conveniadas no ensino básico, com 1 milhão de alunos, dos quais 400 mil em escolas públicas.

"Trata-se de um mercado altamente pulverizado e ainda não totalmente profissionalizado, o que o torna propício à consolidação, movimento que já vem se concretizando no ensino superior e que também move importantes players na educação básica, nós entre eles", diz Chaim Zaher, presidente do grupo SEB. Com 45 mil alunos, 35 unidades próprias e presente em oito Estados, o SEB aposta na educação básica, que vai da educação infantil ao pré-vestibular. "Há características mais atraentes neste segmento. O ciclo de vida do aluno é, em média, quatro vezes mais longo e o ticket médio é superior", diz Zaher. A meta da empresa é atingir 100 mil alunos até 2020. No segundo semestre de 2014, o SEB adquiriu o Colégio GEO, da Paraíba, o Cecan, de Brasília, e a Escola do Amanhã, de Ribeirão Preto (SP), onde fica sua sede.

Com foco no ensino superior do Norte e Nordeste, o grupo Ser Educacional, do Recife (PE), começa a se expandir para outras regiões. Em dezembro comprou a Universidade de Guarulhos (UnG), na RMSP, com 18,5 mil alunos. No total, o grupo atende 148,5 mil alunos, dos quais 118 mil no Norte e Nordeste. Nessas regiões, segundo Jânyo Diniz, CEO do grupo, o Ser Educacional tem mais 25 novas unidades em processo de credenciamento pelo Ministério da Educação e Cultura. "Estamos muito confiantes no crescimento do ensino superior nos próximos anos, em função de sua baixa penetração no país e da necessidade de mão qualificada."

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