Crise intensifica limitações nos ensinos básico e superior

Em: 06 Janeiro 2017 | Fonte: DCI com Reuters

O governo federal investiu bilhões de reais nos últimos anos em ensino superior privado, mas a crise que atinge o País e deficiências históricas na formação básica dos alunos ameaçam deixar os estudantes sem alternativas em suas áreas de escolha. Um dos principais instrumentos da política governamental de acesso à educação superior, o Fundo de Financiamento Estudantil (Fies) recebeu aporte de R$ 14,09 bilhões em 2015, verba 16 vezes maior que a de R$ 880 milhões alocada para 2010. Mas esses e outros esforços vêm esbarrando no descompasso cada vez maior entre as taxas de matrículas e concluintes.

De 2010 para 2015, o número de matriculados no ensino superior do País subiu pouco mais de 47%, já o de concluintes divergiu, crescendo 38%, conforme dados do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais (Inep). Cálculos da Associação Brasileira das Mantenedoras do Ensino Superior (Abmes) com base nos números mais recentes disponibilizados pelo governo federal indicam que apenas 42% daqueles que se matricularam em 2012 concluíram os cursos em 2015. O percentual é inferior ao de 44% observado entre 2010 e 2013, período em que a economia brasileira estava em expansão e o País contava com uma situação de pleno emprego. E essa realidade tende a persistir neste ano, à medida que os indicadores de trabalho do país seguem deteriorados. Ao final do trimestre encerrado em novembro, a taxa de desemprego no Brasil atingiu 11,9%, com 12,1 milhões de pessoas desocupadas.

Num ambiente em que a disputa por vagas de trabalho entre os egressos do ensino superior se acirra, o critério de seleção baseado na reputação da instituição de ensino frequentada pelos estudantes tende a ganhar peso. Segundo John Mackenzie, executivo de marketing da empresa de gestão em Recursos Humanos ADP na América Latina, a formação em instituição de renome ainda é vista como diferencial dependendo da vaga disputada. "Quem faz faculdade de primeira linha já larga na frente", disse, destacando principalmente as carreiras na área de finanças.

"Existe ilusão de que ensino superior dá garantia de emprego, mas isso não vale para todos", acrescenta o ex-ministro de Educação Renato Janini Ribeiro, também professor de Filosofia da Universidade de São Paulo (USP). "Tem um número significativo de alunos que entra no ensino superior com formação insuficiente e a faculdade não dá conta de superar", ressaltou. Para o professor da cátedra Instituto Unibanco Insper, voltada a pesquisas sobre o ensino médio, Sérgio Firpo, cabe ao governo federal desenvolver, com a ajuda do setor privado, uma estratégia compatível com as exigências reais do mercado de trabalho, e não simplesmente destinada ao preenchimento de vagas em universidades. "Falta direcionar subsídios e esforços para carreiras com potencial de gerar retorno social mais imediato", disse Firpo.

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