Corretores da redação do Enem terão que fazer teste eliminatório sobre critérios de avaliação

Em: 04 Setembro 2015 | Fonte: O Globo

Processo inédito é para selecionar aqueles que estiverem mais alinhados aos procedimentos do exame

RIO - Após problemas com a avaliação das redações do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) em edições anteriores, os corretores vão passar, pela primeira vez, por uma prova eliminatória presencial, com questões objetivas e discursivas, antes de realizar o trabalho este ano. Segundo o Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), a medida deve qualificar ainda mais o processo, selecionando aqueles que estiverem mais alinhados aos critérios pré-definidos para avaliar o exame, que será aplicado a 7,7 milhões de candidatos nos próximos dias 24 e 25 de outubro.

Atualmente, 16 mil pessoas graduadas na área de Letras com formação em Língua Portuguesa estão sendo preparadas para atuar na correção, por meio de um curso de capacitação a distância com duração de 120 horas, que vai até 26 de setembro. A novidade é que, após essa etapa, elas farão uma prova presencial com cem questões objetivas sobre os critérios de correção da redação do Enem e responderão uma questão discursiva de 15 linhas para verificar a habilidade de escrita. O teste será aplicado em 49 municípios, no dia 27 do mesmo mês. Para a aprovação, os participantes precisam alcançar, pelo menos, 50 pontos na prova objetiva e cinco na discursiva.

Devidamente habilitados, os corretores vão passar por capacitação presencial de 16 horas, nos dias 7 e 8 de novembro, com base em textos redigidos por candidatos do Enem 2015. Depois, em uma avaliação que já existia nos anos anteriores, eles terão que corrigir outros textos de participantes do exame. Este material estará previamente corrigido por uma banca de especialistas do Centro de Seleção e de Promoção de Evento (Cespe).

Para ser finalmente aprovado e atuar na correção oficial, o avaliador precisa tirar nessa etapa, no mínimo, sete pontos numa escala de 1 a 10. Esta pontuação será atribuída conforme a proximidade entre a nota conferida pelo candidato a corretor e a avaliação da banca sobre os textos dos participantes.

O número final de profissionais que desempenharão o trabalho é calculado apenas depois da aplicação do Enem.


Polêmicas acerca da correção dos textos têm acompanhado diferentes edições do exame. Em 2013, O GLOBO mostrou que redações do Enem 2012 que continham brincadeiras como uma receita de macarrão instantâneo e trechos do hino do Palmeiras receberam 560 e 500 pontos, respectivamente. No mesmo ano, o jornal mostrou que textos com nota 1.000 apresentavam erros grosseiros como “enchergar”, “trousse” e “rasoavel”, além de desvios graves de concordância. Após os episódios, o Inep tornou os critérios de correção mais rígidos. No Enem 2014, apenas 250 candidatos atingiram a nota máxima em redação, e mais de 529 mil receberam nota zero.

As redações são avaliadas por dois corretores independentes, que atribuem uma nota de zero a 200 pontos para cada uma das cinco competências avaliadas. Uma terceira correção é realizada em caso de discrepância maior do que cem pontos na soma total das competências ou maior que 80 pontos em pelo menos uma competência. Persistindo a discrepância, a redação é encaminhada para uma banca, que atribui a nota final.

ESPECIALISTAS ELOGIAM

Ester Chapiro, que é psicopedagoga da Central de Professores e coordenadora do projeto Enem do Colégio Santo Amaro, gostou da inclusão da prova.

— Isso é fundamental, pois minimiza dúvidas e garante que a nota do candidato seja fidedigna — elogiou.

Felipe Couto, diretor de ensino médio do Curso e Colégio pH, lembrou que uma parte considerável dos corretores foi desligada no meio do processo de correção do ano passado por não estar adequada. Uma avaliação prévia, segundo ele, evitaria isso. Couto também defendeu medidas para reduzir discrepâncias:

— Mesmo que o Inep tenha o terceiro corretor quando há discrepância, eles consideram aceitável que uma redação receba 700 e 800 pontos. Quando isso acontece, o aluno fica com nota 750. Mas, no processo seletivo da UFRJ, por exemplo, onde a redação possui maior peso, isso é uma diferença brutal.

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